Durante a Guerra Civil Espanhola, enquanto quatro colunas das tropas fascistas tentavam invadir Madri, um general franquista teria declarado na rádio que uma quinta coluna estaria agindo clandestinamente para implodir o regime republicano de dentro da capital. Como forma de retaliação, o governo republicano promoveu uma série de massacres, a fim de eliminar a “quinta coluna”.
“Quinta coluna” passou a ser um termo utilizado para atacar descendentes ou imigrantes de origem de algum dos países do Eixo. Pressupondo traição e conspiração, o racismo e uma série de graves violações de direitos foram acobertadas pela narrativa inglória da paranóia securitista.
Nos Estados Unidos, a ladainha sobre a “quinta coluna” justificou a criação de campos de concentração para japoneses e descendentes de japoneses. Mais de 100 mil foram removidos de suas casas e encarcerados em regime de exceção.
No Brasil, a perseguição contra os supostos clandestinos da quinta coluna marcou toda uma geração, mesmo depois de alguns anos do término da Segunda Guerra Mundial.”Quinta coluna” tornou-se, por exemplo, uma forma das crianças brasileiras discriminarem as crianças de origem japonesa nas escolas. Esse mesmo vocabulário foi apropriado pela polícia brasileira que passou a prender injustificadamente japoneses que conversassem na rua em sua língua materna. O estado brasileiro chegou a invadir casas para confiscar livros escritos em japonês. Por essa razão, as famílias de origem japonesa deixaram de falar a língua já em sua segunda geração no Brasil. A assimilação foi violenta e militarmente forçada sobre uma das maiores e mais antigas comunidades migrantes no Brasil.
A direta menção a estes episódios no nome do blog, evoca a necessidade de uma reconciliação honesta com a memória histórica do nosso povo. É necessário entender que os dispositivos de dominação, de poder e de proteção de privilégios construíram ao longo das eras um imbricado sistema de discriminação racial.
É necessário também compreender que esse sistema se beneficia da ruptura com o tempo histórico. Quando, sutilmente, apaga o rastro da continuidade dos fatos, apresenta de forma abstraída todo o esquema social, político, cultural e cognitivo da nossa vida e de nossa interação humana; acabando, assim, com toda esperança de transformação.
Falar de uma “outra coluna” é admitir que o peso da história ainda cai sobre nós, que os olhares suspeitosos ainda nos medem de cima abaixo, que as acusações injustificadas ainda nos encurralam. Entretanto, é dizer também que, sem negar essa marca, podemos reconstruir novas trajetórias que não precisam se descrever através do repertório da modernidade ocidental.
Falar de uma “outra coluna” é entender que o sistema de colunas existe, mas é também questionar a quem ele serve.
Parabens pela iniciativa. Esperamos nos encontrar na luta contra as discriminações em:
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